sábado, 25 de agosto de 2012

360: A Vida é Um Círculo Perfeito





A vida não é um círculo perfeito



Há filmes que nasceram para levar porrada da crítica especializada. É o caso de «360», o mais recente filme do brasileiro Fernando Meirelles. A pergunta que se coloca é se podemos estar de acordo que um filme onde se notam claramente algumas deficiências narrativas causadas sobretudo por um argumento pobre e que não cumpre no atrevimento a que se propunha pode ainda assim agradar-nos particularmente. E a resposta é claramente afirmativa. E se me perguntarem porquê eu poderia deixar aqui ene motivos a começar pela presença discreta mas sempre sedutora de Rachel Weisz. A linda, elegante e competente Rachel Weisz.
Mas sim, Meirelles faz o seu filme através do mosaico de histórias que foi celebrizado por esse brilhante e inesquecível «Magnólia» [1999]. E falha. Mas mais falha quem escolheu o título português para o filme. Que raios, a vida não é um círculo perfeito por mais voltas que demos e no final venhamos invariavelmente ter ao ponto de partida. Pelo contrário, a vida é feita de cabeçadas e trambolhões, acasos felizes e infelizes, amores e desamores. E de escolhas. Aquelas que fazemos por nós e as que outros fazem e nos atingem como uma bala certeira. E ou morremos da ferida ou a saramos e recuperamos. É disto que fala «360». Penso eu. E já agora permitam-me a confissão de gostar muito que os filmes me obriguem a pensar os labirintos em que o quotidiano de cada um de nós se embrenha na tentativa de [sobre]viver. De viver e ser feliz. E não, insisto: a vida não é um círculo perfeito, meus caros.

Meirelles, o brasileiro que filmou a beleza dramática de Rachel Weisz em «O Fiel Jardineiro» [muito obrigado por isso, sô Meirelles] parte neste seu filme de vários microcosmos das relações humanas para concluir que aqui e ali há sempre um ponto onde as vidas distantes se aproximam, cruzam e condicionam. Para protagonizar a sua história escolheu atores e atrizes conhecidos – a já referida Rachel, Jude Law e Anthony Hopkins que no mínimo nunca conduzem as suas personagens em piloto automático – mas também perfeitos desconhecidos como a interessante Danica Jurcová [a prostituta de olhar doce na procura ‘fácil’ do seu paraíso na terra]. Andou algures por Viena, Bratislava, Paris, Londres e Colorado, citando apenas estes locais para não fazer deste texto um livro geográfico, e falou-nos de adultério, chantagem, do drama de pessoas desaparecidas, de abuso sexual, de prostituição, de vida e de morte, de paixão, de amor, de ódios. E de escolhas. E com isso construiu um filme bastante equilibrado.

Voltando à frase com que iniciei este texto, «360» tem ainda o mérito de substituir o ginásio para muitos que queiram libertar tensões. Mas reparem, que ninguém fique incomodado com esta acusação [de facto, é de uma acusação que se trata, as minhas desculpas] já que não vejo mal nenhum nisso. Até porque, e aqui o declaro, por vezes também o faço e queima mais calorias que duas aulas seguidas de cycling. Mas não, em «360» não o vou fazer, recuso-me. Porque a vida não é um círculo perfeito e o filme me deu a oportunidade de o relembrar. E porque me agrada [quase todo] o cinema que se propõe retratar a complexidade humana. E esta minha tendência pode até ser um defeito mas convenci-me que é do meu feitio.



«360: A Vida é Um Círculo Perfeito», de Fernando Meirelles, com Rachel Weisz, Jude Law, Anthony Hopkins, Danica Jurcová, outros


2 comentários:

redonda disse...

Depois de ler esta crítica e ter passado algum tempo, em que pude pensar de novo no filme, a minha opinião alterou-se para melhor. Talvez tenha sido o título que me levou a ficar primeiro decepcionada, porque estava à espera de um círculo perfeito :)

JL disse...

Pois!... Mas a vida não é um círculo perfeito, Redonda. Se houvesse no mundo muito mais pessoas como tu o círculo aperfeiçoava-se. Beijinhos.